“Quem vai atrás de um sonho consegue encontrar novas soluções para os problemas de sempre. Encara os obstáculos como desafios e oportunidades” – Beatriz Rubio
Um microondas na mala do carro
Uma das histórias mais engraçadas sobre a maneira como, numa determinada época da minha vida, conjugava a família e o trabalho (e pelo meio me esquecia de mim) é a do microondas no carro. Depois de estar nove anos na L’Oréal® (primeiro em Espanha, depois em Portugal), fui contratada como Directora de Compras do RECHEIO cash and carry da Jerónimo Martins.
Tinha na altura trinta e dois anos, estava felizmente casada, tinha duas filhas, e era responsável por todas as compras de produtos que se vendiam no Recheio Cash & Carry.
O meu trabalho consistia, basicamente, em estar atenta aos mercados e comprar grandes quantidades de produtos a preços suficientemente apetecíveis para ganhar uma boa margem na venda.
O trabalho era empolgante e aliciante, ganhava muito bem, e isso justificou, durante algum tempo, alguma ginástica logística para conciliar família e trabalho.
Passava vários dias da semana na sede da Jerónimo Martins, em Braga, e o resto da semana em Lisboa.
Mas não me separava das minhas filhas. Viajava muito, para cima e para baixo, e elas acompanhavam-me: metade da semana no Norte, metade da semana em Lisboa, de volta ao ninho, comigo e com o pai.
Na altura, aquilo era tão importante para mim, que às minhas filhas estivessem comigo que eu tinha dois infantários, um em Braga e ou outro em cascais, não minha zona de residência.
Como eram pequeninas, 6 meses e 2 anos, e não comiam ainda comida de adulto, tive de pensar numa solução para as viagens (na altura, demorávamos quatro horas e meia de Lisboa a Braga) porque não estava terminada a autoestrada Porto – Braga.
Na segunda feira, saímos de casa às 4h da madrugada. Eu metía-as no carro de pijama a dormir, e dava um biberão para ficarem aconchegadas… e íamos caminho de Braga.
Pelo caminho, às vezes tinha que aquecer um biberão, ou dois, e o aquece biberões típico de carro demorava quase 10 minutos por biberão o que para mim na altura era uma enorme perca de tempo.
Também, muitas das estações de serviço estavam fechadas, e sinceramente dava-me medo, e por tanto, eu parava em um cantinho onde ouve-se luz e aquecia os biberões rapidamente, dava-os, e seguíamos caminho.
Depois de muito pensar… a solução foi simples: mandei instalar um microondas na mala no carro.
Penso sempre assim: «Não é porque determinada coisa nunca foi feita que é impossível de se fazer».
O senhor que me instalou o microondas no carro perguntou: «A senhora faz entregas de comida?», ao que respondi: «Não, é para aquecer os biberões das minhas filhas».
E assim se passou um ano de idas e vindas, viagens de Sul para Norte e de Norte para Sul. Nessa altura, para mim era mais importante ter as minhas filhas comigo, mesmo que isso exigisse uma grande capacidade de adaptação.
E criatividade. Simplesmente, não podia aceitar a ideia de ter de abdicar delas.
“Criatividade é inventar, experimentar, crescer, correr riscos, quebrar regras, cometer erros e divertir-se.” – Mary Lou Cook
A pouco tempo atrás, falei com a Marta desta época, pensei que pouco ou nada devia lembrar-se. A Marta passou desde os dois anos até os 3 e medio, quase quatro.
Qual foi a minha surpresa quando lembrava-se de muita coisa e a sua lembrança era de uma época muito feliz, sempre com a mãe, a cantar e brincar.
Nesse momento, fiquei super feliz, porque a pesar delas ter feito tantos kms por ano, como se dessemos uma volta ao mundo, a verdade e que o sentimento de apego, amor e carinho, de estar coma mãe, ficou dentro delas e nada nem ninguém poderá tirar alguma vez… e nem imaginam as criticas que tive que ouvir por ter dois infantários, pelos kms a fazer com elas e que era muito melhor uma casa e estabilidade…mas o meu interior, a minha voz mais sabia disse-me que deviam estar comigo e assim foi.
Por isso, segue a tua voz interior, pois ela é muito sabia e sabe o que está bem e mal, em função da tua educação e experiência de vida e com criatividade encontra soluções diferentes de aquilo que alguma vez poderia ter sido feito… porque ninguém sabe melhor o que é bom para ti… que TU próprio.
“Quando enfrenta um problema, começa a resolvê-lo.” – Rudy Giuliani
Este texto pertence ao meu livro, “Conquistando a Vitória“, que está à venda na Amazon em formato e-book.