Abraça-me, porque amanhã talvez não seja possível.
Fui criada de uma forma muito comum em Espanha, nos anos 70, e acho que também era assim em Portugal, ou seja, cada vez que ia a casa dos meus avós, eles não me deixavam ter comida no prato, e por isso, a frase mais normal que ouvia deles era a seguinte: “come tudo que nunca sabemos quando pode vir outra guerra”, e eu, quase a rebentar, comia a última colher de lentilhas…
A minha avó era mais obcecada pelo lanche, dizendo sempre que lanchar era um privilégio, e por isso, o leite com chocolate e o pão com manteiga, nunca faltavam. Quando eu contava isto aos meus amigos, eles concordavam e diziam que isso também acontecia com eles.
E por causa dos traumas da guerra civil espanhola, os meus avós, foram uma geração que economizava tudo o que tinha e onde cada reunião à mesa era vivida como um privilégio.
Já nós… a nova geração… consegue encher o frigorífico sem problemas, da mesma forma que também deita ao lixo comida que se deixa estragar. Isto, porque nascemos numa altura de normalidade e segurança, onde estávamos convictos de que nada nos aconteceria.
Mas nada é eterno, e nada é possível de ser controlado na sua totalidade. Exemplo disso, é esta pandemia, que é como uma guerra, sem tiros na rua, mas guerra… onde passámos a passar fome, não como nas outras ocasiões, mas sim de contacto com o outro, e onde os nossos traumas estão a ser o distanciamento, a solidão e a distância.
E tal como os meus avós, que queriam sempre lanchar e não nos deixavam deixar nada no prato, sindo que os traumas desta pandemia me vão levar a falar com os meus filhos e um dia com os meus netos e dizer: “dá cá um abraço porque amanhã pode não ser possível estarmos juntos e abraçar-nos!”.
THE STRENGTH OF A HUG
Hold me, because tomorrow may not be possible.
I was raised in a very common way in Spain, in the 70s, and I think that was also the case in Portugal, that is, every time I went to my grandparents’ house, they would not let me have food on the plate, the most normal phrase I heard from them was the following: “eat everything we never know when another war may come”, and I, almost bursting, ate the last spoonful of lentils …
My grandmother was more obsessed with snacking, always saying that snacking was a privilege, and that is why chocolate milk and bread and butter were never lacking. When I told this to my friends, they agreed and said that this also happened to them.
And because of the traumas of the Spanish civil war, my grandparents were a generation that saved everything they had and where every meeting at the table was lived as a privilege.
We … the new generation … can fill the fridge without problems, in the same way that they also throw food that is allowed to spoil. This is because we were born in a time of normality and security, where we were convinced that nothing would happen to us.
But nothing is eternal, and nothing can be controlled in its entirety. An example of this is this pandemic, which is like a war, with no shots in the street, but war… where we went hungry, not as on other occasions, but in contact with each other, and where our traumas are being distancing, loneliness and distance.
And just like my grandparents, who always wanted to have a snack and would not let us leave anything on the plate, knowing that the traumas of this pandemic will lead me to talk to my children and one day with my grandchildren and say: “give me a hug because tomorrow it may not be possible to be together and embrace!”.
Translated by Google Translate