No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma. Ainda não houve quem a visse, mas todos sabem que ela existe. E não só todos sabem que existe, como também sabem o que lá tem dentro.
Dentro da alma, lá bem no centro, pousado numa pata, está um pássaro. E o nome do pássaro é o Pássaro da Alma. E ele sente tudo o que sentimos:
Quando alguém nos magoa, o Pássaro da Alma agita-se para lá e para cá, em todos os sentidos, e dentro do nosso corpo ele sofre muito.
Quando alguém nos ama, o Pássaro da Alma dá pulinhos de contente, para trás e para frente, vai e vem.
Quando alguém nos chama, o Pássaro da Alma põe-se logo à escuta da voz, a fim de reconhecer que tipo de apelo é.
Quando alguém se zanga connosco, o Pássaro da Alma recolhe-se dentro de si e fica tristonho.
O Pássaro da Alma é feito de gavetas, e como ele pousa numa pata, com a outra abre as gavetas daquilo que sentimos. A gaveta da alegria, tristeza, inveja, esperança, desilusão, ou a gaveta dos segredos mais escondidos.
O pássaro fala-nos. Há quem o ouça muitas vezes, há quem o ouça raras vezes e há quem o ouça uma única vez na vida.
Por isso, vale a pena, talvez pela noite, quando o silêncio nos rodeia, escutar o pássaro da alma que está dentro de nós, lá no fundo do nosso corpo.
BEATRIZ RUBIO
* Baseado no livro “O Pássaro da Alma” de Michal Snunit